sábado, junho 14, 2025
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Produtores se unem para retomar plantio de algodão no Paraná

Boa rentabilidade e menor custo de produção atraem agricultores que buscam alternativas para diversificar as lavouras

Produtores se unem para retomar plantio de algodão no Paraná

Em maio, o produtor José Antonio Borghi inicia a colheita de sua segunda safra de algodão no município de Santa Cruz de Monte Castelo, na região Noroeste do Paraná. A expectativa é alcançar 150 toneladas, com produtividade estimada em 200 arrobas de algodão em caroço por hectare.

Borghi faz parte de um grupo de agricultores que busca retomar a cotonicultura paranaense. Há quase 35 anos, na safra 1991/92, o Paraná era o maior produtor de algodão do Brasil, com 709 mil hectares cultivados, o equivalente a 36% da área nacional. No entanto, a infestação do bicudo-do-algodoeiro, a expansão da soja e as dificuldades econômicas na década de 1990 levaram ao declínio da cultura no Estado. Agora, com avanços em tecnologia e manejo, os cotonicultores tentam reconquistar esse espaço.

Para isso, desde 2001, a Associação dos Cotonicultores do Paraná (Acopar) tem atuado para fortalecer a retomada da cotonicultura, mobilizando produtores e oferecendo e técnico. A entidade disponibiliza assistência especializada, maquinário para colheita e transporte, além de auxiliar na comercialização da produção.

Borghi, que recebe assistência técnica da Acopar, acredita no potencial econômico da cultura. “Ainda há resistência entre os produtores, porque o algodão exige mais manejo e a soja é uma cultura consolidada e de condução mais simples. Mas, diante da atual queda nos preços da soja, o algodão surge como uma alternativa interessante”, avalia.

De acordo com a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) , a área atual plantada no Brasil atingiu 1,8 milhão de hectares, aumento de 12,5% em relação à temporada anterior. Para a safra 2024/25, a previsão é colher 5,4 milhões de toneladas de algodão em caroço, com produtividade média de 200 arrobas por hectare.

Para o presidente da Acopar, Almir Montecelli, o Paraná tem um mercado interno promissor, especialmente nas regiões Norte e Noroeste. Isso porque o parque têxtil estadual consome cerca de 60 mil toneladas de pluma de algodão por ano, a maior parte vinda do Cerrado, principal região produtora do país. Para suprir essa demanda com produção local, seria necessário ampliar a área cultivada no Estado de 1,5 mil para pelo menos 60 mil hectares. A meta da Acopar é atingir 60 mil hectares nos próximos cinco anos.

“A cotonicultura tem um enorme potencial de expansão no Paraná, especialmente no Arenito, onde se adapta bem e pode alcançar produtividade ainda maior com irrigação”, destaca Montecelli. “Os desafios do ado foram superados. O algodão a melhor períodos de estiagem, o bicudo está controlado, as novas variedades são mais resistentes e, hoje, a colheita é totalmente mecanizada”, elenca.

Vantagens competitivas

O Paraná reúne condições favoráveis para a retomada do algodão, com destaque para o menor custo de produção. No Estado, o investimento por hectare varia entre R$ 12 mil e R$ 14 mil, enquanto em outras regiões do Brasil pode chegar a R$ 25 mil.

O uso reduzido de insumos é outro diferencial. No Cerrado, por exemplo, são realizadas mais de 24 aplicações de inseticidas por safra, enquanto no Paraná a média é de 11,7. A economia se estende à adubação: enquanto no Cerrado são aplicadas cerca de 1,2 tonelada de fertilizante por hectare, no Paraná esse volume cai para 620 quilos. Além disso, a resistência das variedades cultivadas no Estado dispensa fungicidas.

“O algodão é mais uma opção interessante para os nossos produtores rurais, permitindo vantagens financeiras e também ganhos com a conservação do solo, pois contribui para a rotação de cultura. Dentro do Sistema FAEP, estamos dando todo o apoio necessário para que a cultura possa se desenvolver e crescer no Paraná”, destaca o presidente interino do Sistema FAEP, Ágide Eduardo Meneguette.

Além do custo reduzido, o Paraná tem uma vantagem estratégica na comercialização: as lavouras são colhidas antes do restante do país, permitindo o abastecimento do mercado interno durante a entressafra nacional. “Essa janela favorece a venda e torna o algodão paranaense mais competitivo”, complementa Montecelli.

Em termos financeiros, o algodão pode superar a soja em retorno por hectare. Montecelli exemplifica: um produtor associado da Acopar investiu R$ 8,4 mil por hectare na lavoura de soja, colheu 54 sacas e obteve um lucro de R$ 3 mil por hectare. Já no algodão, o investimento foi de R$ 15 mil, resultando em uma colheita de 248 arrobas e um lucro de R$ 7,6 mil por hectare.

Além da rentabilidade, o algodão traz benefícios quando utilizado na rotação de culturas, ajudando a quebrar o ciclo de pragas e doenças e melhorando a absorção de nutrientes pelo solo. Segundo a Acopar, as lavouras semeadas após o algodão podem apresentar um incremento de até 20% na produtividade.

Há seis anos, o produtor Aristeu Sakamoto voltou a plantar algodão em 30 hectares de sua propriedade em Cambará, no Norte Pioneiro. A decisão foi motivada pela paixão pela cultura, que, plantada por seu pai, sustentou a família por décadas.

O incentivo que faltava veio com o apoio da Acopar, que auxilia na comercialização, garantindo mais segurança ao produtor e melhores condições de negociação. Para a safra 2024/25, sua expectativa é superar 250 arrobas de algodão em caroço por hectare.

Desafios à vista

Apesar das vantagens, a ausência de uma algodoeira no Paraná ainda encarece a produção, já que o beneficiamento ocorre em Martinópolis, no interior de São Paulo. Para resolver essa questão, a Acopar trabalha na instalação de uma unidade em Ibiporã, na região Norte, com previsão de operação nos próximos anos.

O setor também busca incentivos governamentais para reduzir custos e ampliar a produção. “O governo do Paraná já tem o programa Irriga Paraná, que pode ser utilizado para o algodão, ajudando a elevar a produtividade”, afirma Edson Dornellas, presidente do Sindicato Rural de Londrina. O programa busca ampliar em 20% a área irrigada do Estado, com investimentos de R$ 200 milhões em crédito subsidiado e pesquisa científica.

Outra estratégia para reduzir custos, segundo Dornellas, é a aquisição de maquinários usados de outras regiões produtoras, facilitando a entrada de novos agricultores na atividade.

“Muitos Estados têm máquinas antigas paradas, que podem ser adquiridas a um custo baixo e trazidas para cá. É uma forma de incentivar o produtor, mostrar que dá para começar de forma mais ível, e, com o tempo, investir em melhorias”, menciona.

Além disso, a implantação e condução da lavoura de algodão podem ser feitas com o mesmo maquinário utilizado para soja ou milho, exigindo apenas pequenas adaptações.

Para Sakamoto, o maior desafio é o ceticismo dos produtores, que ainda não enxergam no algodão uma cadeia estruturada como a da soja, do milho, da cana-de-açúcar e do café. “Essa percepção vai além do produtor e atinge cooperativas, empresas do agronegócio, entidades de pesquisa e até profissionais da área”, observa.

Ele destaca, no entanto, que o cenário mudou para melhor. “Nos últimos anos, a produtividade dobrou, e a condução da lavoura se tornou menos dependente de mão de obra, que antes era onerosa e pouco eficiente na qualidade da colheita. Além disso, as tecnologias desenvolvidas em outras regiões do Brasil podem e devem ser adaptadas ao Paraná, algo que já está sendo trabalhado pela Acopar”, acrescenta.

 

 

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