Ana Machado (fotos: divulgação) – A Agricultura de Precisão (AP), especialmente a automação, vem transformando profundamente a operação de máquinas agrícolas no Brasil e no mundo. Se antigamente o agricultor dependia apenas da sua experiência para tomar decisões, já faz algum tempo, ele pode contar com uma série de tecnologias de ponta, tais como GPS, mapeamento de solo, drones, sensores, robótica, internet das coisas (IoT) e inteligência artificial (IA). A revolução digital alçou as máquinas agrícolas a uma nova fase. A modernidade trouxe o gerenciamento em tempo real das variabilidades espaciais e temporais das lavouras, proporcionando impactos positivos do plantio à colheita.
De acordo com a GS1 Brasil – Associação Brasileira de Automação, “assim como a revolução industrial mecanizou a produção em larga escala, a automação está modernizando o campo, tornando-o mais produtivo, sustentável e conectado”. A GS1 Brasil tem acompanhado essa transformação desde 2019, por meio de uma pesquisa detalhada sobre as inovações no mercado agrícola, criando um importante mapeamento do avanço tecnológico em diversas etapas da produção, como análise e preparo do solo, plantio, manejo, irrigação, colheita, criação e alimentação animal.
Segundo os dados mais recentes do Índice Agrotech, criado pela entidade, quatro em cada dez fazendas planejam investir em automação nos próximos anos, com foco principalmente na integração de sistemas, softwares de gestão e aquisição de equipamentos mais modernos.
“Um grande desafio é pensar não apenas na quantidade de máquinas no campo, mas em como elas estão sendo utilizadas. Temos extraído muitos dados por meio de tecnologias embarcadas, mas o que estamos fazendo com eles? Vários grupos de pesquisa estão dedicados a estudar maneiras de usar esses dados da melhor forma para transformá-los em informações relevantes”, explica Rafael Sobroza Becker, professor adjunto dos cursos de Agronomia e Engenharia Agrícola da Universidade de Santa Cruz do Sul.
A fala de Becker é legítima no universo do big data: com tantos dados disponíveis, como organizar tudo para que as informações sejam compreendidas de forma ágil e eficiente? A partir desse questionamento, um grupo pesquisadores da Universidade de São Paulo (USP) elaborou um verdadeiro dossiê sobre o uso de “Inteligência artificial na pesquisa agrícola”, publicado na metade do ano ado na Revista USP.
“As características dos processos agrícolas, sua abrangência, a complexidade natural dos aspectos biológicos, climáticos e de solo, ambientais e de sustentabilidade, a diversidade de perfis de produtores, as instabilidades de mercado – do local ao global –, entre outros fatores, requerem ferramentas adequadas para permitir seu entendimento e a tomada de decisões bem-informada, muito mais do que ocorre hoje”, destacam os pesquisadores.
Segundo eles, “a inteligência artificial desempenhará um papel cada vez mais importante na agricultura, integrada com outras tecnologias como IoT, e poderá proporcionar insights mais profundos, possibilitando decisões mais precisas e informadas no campo e ao longo das cadeias produtivas, tornando a agricultura mais inteligente e sustentável”
8 importantes avanços tecnológicos aplicados às máquinas agrícolas:
1. Operações autônomas com IA
Há diversos modelos de tratores, colheitadeiras e pulverizadores autônomos, com sistemas GPS, sensores e inteligência artificial, que permitem uma navegação precisa e sem necessidade de uma pessoa para a operação. Seus grandes benefícios são a possibilidade de executar rotas otimizadas para economizar tempo e combustível, além de funcionarem de forma ininterrupta, inclusive à noite ou em condições adversas.
2. Monitoramento e controle remoto
Por meio de telemetria e conectividade (como IoT), é possível monitorar em tempo real o desempenho das máquinas, diagnosticar falhas à distância e ajustar operações remotamente, como a velocidade e a profundidade de plantio. Trata-se de um importante ganho na manutenção preditiva e, consequentemente, na redução de paradas inesperadas.
3. Tomada de decisão baseada em dados
Sensores e softwares embarcados analisam variáveis como umidade do solo, tipo de cultura e níveis de nutrientes para que as máquinas possam aplicar insumos com precisão e evitar desperdícios, reduzindo tanto os custos quanto o impacto ambiental.
4. Integração com plataformas digitais
As máquinas agrícolas estão conectadas a plataformas de gestão que integram dados de toda a fazenda, facilitam o planejamento e a análise de safras e automatizam o agendamento das operações.
5. Pulverização seletiva com visão computacional
Câmeras e IA identificam exatamente onde há plantas daninhas e aplicam herbicidas somente onde é necessário, o que reduz em até 90% o uso de defensivos agrícolas.
6. Conectividade e IoT no campo
Já existe uma integração total entre máquinas, sensores e plataformas em nuvem. Essas máquinas trocam informações entre si por meio de redes privadas de internet e permitem o controle em tempo real das operações.
7. Plantio de alta precisão com mapas de prescrição
Máquinas agrícolas aram a usar mapas georreferenciados para aplicar sementes em densidade ideal por zona de manejo. Dessa forma, sensores monitoram o plantio linha a linha e permitem o melhor uso do potencial produtivo do solo.
8. Inteligência Artificial para previsão e decisão
Algoritmos processam dados de clima, solo e produtividade e as máquinas são orientadas a executar tarefas no melhor momento e local. A partir disso, a IA aprende com dados operacionais e otimiza rotas, velocidade e uso de insumos.
Máquinas conectadas: mais ganhos em produtividade e rentabilidade
Pulverização por meio de drones
Os drones da XAG, do grupo Timber, possuem vários diferenciais que os destacam no mercado de automação e agricultura de precisão. Eles são equipados com câmeras multiespectrais e sensores avançados que permitem o monitoramento detalhado das lavouras, ajudando na detecção de pragas, doenças e deficiências nutricionais.
Além disso, eles oferecem sistemas de pulverização precisos, com controle de vazão e alcance, garantindo uma aplicação uniforme de defensivos e fertilizantes, o que reduz desperdícios e impactos ambientais.
Outros pontos de destaque são a alta autonomia de voo, com sistemas de navegação inteligentes que facilitam o mapeamento e a cobertura de grandes áreas de forma rápida e segura, mesmo em terrenos complexos.
Sistemas de acionamento e controle hidráulico
Tecnologias de ponta também estão sendo aplicadas aos sistemas de controle das máquinas agrícolas. A Bucher Hydraulics, por exemplo, fornece uma gama de soluções hidráulicas para tratores, colheitadeiras, misturadores e demais equipamentos de grande porte voltados ao campo.
As soluções incluem componentes hidráulicos de alta performance, como bombas, motores, válvulas e atuadores, projetados para melhorar a precisão e a confiabilidade das operações agrícolas, além de proporcionarem maior eficiência energética.
O motor de engrenagem QXM-Móbil, que oferece alto desempenho e durabilidade para aplicações agrícolas, está entre os produtos de destaque da marca.
Automação da lavoura em tempo real
Em seu portfólio de soluções em automação e serviços de agricultura de precisão, um dos destaques da Jacto é o pulverizador autônomo Arbus 4000 JAV, que utiliza uma série de tecnologias para navegação autônoma e monitoramento do ambiente. A marca conta ainda com outros produtos, como piloto automático, controle automático de seções, controle de dose de aplicação, repetidor de operações e telemetria, além da plantadeira com controle de taxa de sementes.
A plataforma EKOS, desenvolvida pela área de serviços digitais da empresa, integra essas soluções e permite o gerenciamento das operações da fazenda com transmissão online de dados, promovendo ganhos em eficiência, economia de insumos e produtividade.
Outra solução que merece destaque são as armadilhas eletrônicas do sistema MIIP (Monitoramento Integrado Inteligente de Pragas), que também utilizam IA e IoT para monitorar pragas remotamente, o que reduz o uso de defensivos e consequentemente os custos, bem como aumenta a sustentabilidade das operações.
Dispositivos inteligentes do plantio até a colheita
Outra marca que tem despontado na automação e agricultura de precisão é a Kuhn, que oferece uma gama de máquinas e implementos agrícolas com esse objetivo, como as semeadoras e plantadeiras equipadas com sistemas de dosagem de alta precisão, que garantem uma distribuição uniforme e reduz desperdícios.
As colheitadeiras da empresa também possuem tecnologia avançada, com ajustes automáticos e monitoramento para maximizar a eficiência na hora da colheita, com sistemas de GPS e sensores que auxiliam na gestão dos equipamentos e na tomada de decisões em tempo real.
Vale lembrar que a Kuhn possui experiência em máquinas robóticas, como comprova o misturador totalmente autônomo e autopropelido Aura, destinado a operações na pecuária. Por enquanto, o modelo está disponível apenas na França e funciona com motor de 65 CV e uma gama completa de funções para alimentar rebanhos, desde o carregamento dos insumos, pesagem, mistura e distribuição até o retrocesso da forragem e a elaboração de relatórios sobre as tarefas concluídas.
Nos testes feitos em uma fazenda local, os resultados apontaram que o robô Aura possibilitou menos sobras de silagem de milho e menos competição no cocho entre os diferentes animais do rebanho, além de uma redução de 80% nos custos veterinários devido a menos corpos estranhos na ração.
Tendência: fazendas superconectadas
Um dos maiores players do agronegócio brasileiro, o grupo SLC Agrícola, criou há cinco anos o seu Centro de Inteligência Agrícola (CIA), no qual eles investiram mais de R$ 12 milhões ao longo de 2024 para impulsionar a inovação em suas 23 fazendas.
Trata-se de um ambiente digital que integra sistemas de gestão, automação e ferramentas de agricultura de precisão, com o objetivo de otimizar a produção agrícola, tornando-a mais eficiente, econômica e sustentável.
Com o apoio de 15 técnicos especializados, o CIA realiza um trabalho diário de monitoramento e análise de dados, para tomar decisões mais assertivas e garantir maior controle sobre variáveis como práticas agronômicas, condições climáticas e otimização de insumos.
“Ao aplicar tecnologias como sensores em máquinas pulverizadoras, sensores remotos via satélite e apontamentos digitais para a gestão de pragas, conseguimos, por exemplo, realizar a aplicação de fertilizantes e defensivos com maior precisão, evitando desperdícios e reduzindo impactos ambientais. Além disso, na safra 2023/24, essas inovações nos ajudaram a deixar de utilizar 28.948 m³ de água e 48 toneladas de embalagens de defensivos”, aponta o trecho do mais recente Relatório de Sustentabilidade divulgado pelo grupo.
Protagonismo brasileiro na Agricultura de Precisão
O apetite dos produtores brasileiros por tecnologias agrícolas inovadoras permitiu um marco histórico: pela primeira vez, o país sediará a Conferência Internacional de Agricultura de Precisão (IA, na sigla em inglês), nunca realizado fora da América do Norte.
O evento está programado para julho do ano que vem, em Porto Alegre (RS), e será realizado de forma conjunta ao Congresso Brasileiro de Agricultura de Precisão e Digital (ConBAP), promovido pela Associação Brasileira de Agricultura de Precisão e Digital (AsBraAP).
Segundo Marcio Albuquerque, novo presidente AsBraAP, a realização simultânea dos eventos oferece uma oportunidade ímpar para a troca de conhecimentos entre pesquisadores, acadêmicos, consultores e empresas de diversas partes do mundo. “Essa confluência de expertise internacional e local tem o potencial de disseminar ainda mais o uso práticas de agricultura de precisão e digital no Brasil e América Latina, alinhando o país às tendências globais e fortalecendo sua posição como líder na produção agrícola sustentável”, enfatiza.
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