Ana Machado – Impulsionados por linhas de crédito mais íveis, programas de incentivo e o surgimento de equipamentos cada vez mais adaptados à realidade da agricultura familiar, pequenos produtores agora têm mais chances de adquirir tratores compactos e implementos agrícolas modulares para otimizar o trabalho no campo.
De acordo Marcelo Kozar, diretor do Grupo Via Máquinas, o potencial do mercado é imenso. “Se formos pensar que o Brasil tem aproximadamente cinco milhões de propriedades rurais e apenas um milhão é mecanizada, dá para ter uma noção do tamanho da fatia a ser explorada”, enfatiza. Segundo ele, que atua justamente no setor de máquinas agrícolas usadas, todo agricultor sonha em adquirir um equipamento para tornar suas operações mais ágeis, mas quase sempre é barrado pelo alto investimento.
Automação impulsiona os avanços da agricultura de precisão no campo
Dessa forma, a demanda por soluções viáveis, com alta eficiência e baixo custo, tem crescido nos últimos anos. Para o professor Kleber Lanças, da Universidade Federal de Pelotas, isso se deve tanto ao avanço tecnológico quanto à valorização do pequeno produtor.
“O campo está se mecanizando cada dia mais. E para praticamente todo tipo de produção. Antigamente, a aquisição de uma máquina agrícola era algo aos grandes produtores. Hoje em dia, o médio e o pequeno agricultor também estão comprando máquinas. E como a economia rural é composta, em sua grande maioria, por pequenos agricultores, essa demanda só tende a crescer. Basta pensar que 60% dos alimentos produzidos no país vêm dessa parcela da agricultura familiar e ela está se mecanizando e automatizando processos sempre que possível”, ressalta.
Tecnologia ível no campo
Segundo dados da Embrapa, a mecanização eficiente pode aumentar a produtividade em até 40% e reduzir os custos operacionais em mais de 25%. Com tratores de pequeno porte custando entre R$ 60 mil e R$ 120 mil, e implementos modulares com valores a partir de R$ 5 mil, o investimento se mostra viável frente aos ganhos a médio prazo.
A Agrishow 2025 reforçou a tendência: entre os mais de 800 expositores, soluções para propriedades de até 20 hectares se destacaram. Equipamentos como microtratores com engate rápido, tratores compactos e implementos versáteis estavam por toda parte.
A Agritech, por exemplo, apresentou os modelos AF14 e AF14S, com enxada rotativa TA49, voltados para agricultores em transição da tração animal para a mecanização. “São cultivadores motorizados com estrutura de caixa compatível com motores diferentes. Isso torna o equipamento mais barato e versátil”, explicou Everton Rodrigues, coordenador de peças de reposição e pós-vendas da empresa.
Segundo ele, implementos como arado de disco, plantadeira rotativa, roçadeira e pulverizador podem ser usados tanto no microtrator quanto no trator de pequeno porte, otimizando o investimento.
Além da Agritech, outras fabricantes nacionais e internacionais vêm investindo em linhas de produtos específicas para a agricultura familiar. A maioria tem colocado no mercado tratores de até 75 cv, com estrutura compacta, baixo consumo de combustível e possibilidade de acoplar diversos tipos de implementos. Dessa forma, mesmo que o produtor tenha apenas um único trator, ele consegue realizar múltiplas tarefas na propriedade porque tem a chance de montar uma máquina modular.
Implementos para diferentes culturas e condições de trabalho
Plantadeiras e semeadoras modulares:
Realizam o plantio de sementes de maneira uniforme mesmo em propriedades com terrenos irregulares, pois possuem modelos com linhas ajustáveis para diferentes espaçamentos. Além da capacidade de trabalhar com diversas culturas, como milho, feijão e soja, algumas versões já saem de fábrica com dosadores de fertilizantes integrados.
Pulverizadores de montar e rebocar:
Trata-se de um equipamento voltado à aplicação mais precisa de defensivos agrícolas e fertilizantes líquidos. Suas barras de pulverização ajustáveis para diferentes larguras se adaptam a diferentes tipos de culturas e seus tanques possuem sistemas de agitação para manter a homogeneidade da calda.
Enxadas rotativas (rotocultivadores):
Preparam o solo, quebrando torrões e incorporando resíduos orgânicos por meio de lâminas rotativas que trabalham em diferentes profundidades. Os modelos oferecem larguras variáveis para se adequar a diferentes tamanhos de área. Entre seus benefícios estão a melhora da estrutura do solo e a redução da necessidade de múltiplas agens no campo.
Arados e grades aradoras:
Fundamentais na preparação do solo para o plantio, pois promovem a aeração da terra, a incorporação de matéria orgânica e o controle de plantas daninhas. Os modelos de uma ou duas aivecas são os mais indicados para pequenos produtores, pois podem ser acoplados em tratores de baixa potência. Além disso, as grades com discos ajustáveis podem ser usadas em diferentes profundidades de trabalho.
Carretas agrícolas multifuncionais:
Trata-se de um implemento bastante versátil, que pode ser utilizado em diversas atividades dentro da propriedade, tais como o transporte de insumos, colheitas e outros materiais. Os modelos têm capacidades variáveis, para atender diferentes necessidades, e algumas versões possuem basculamento hidráulico para facilitar a descarga.
Sulcadores e encanteiradores:
Sua principal função é abrir sulcos e formar canteiros para o plantio em linha de diversas culturas, bem como ajudar a melhorar a drenagem e a organização das áreas cultivadas. Eles são ajustáveis para diferentes larguras e profundidades, além de serem compatíveis com tratores de pequeno porte e até mesmo microtratores.
Roçadeiras e trituradores:
Promovem a limpeza de áreas, controle de plantas invasoras e trituração de resíduos vegetais. Há modelos laterais ou traseiros, com lâminas ajustáveis e alguns possuem sistemas de segurança para evitar danos em terrenos irregulares.
Crédito e política pública: o empurrão necessário
No estado de São Paulo, o programa Pró-Trator, da Secretaria de Agricultura e Abastecimento, subsidia até R$ 25 mil em juros de financiamentos para aquisição de tratores e implementos. Neste ano, a expectativa é de que o programa atenda pelo menos 800 produtores rurais com apoio de cooperativas e bancos cooperativos.
Já em São José dos Pinhais (PR), a Patrulha Agrícola Municipal oferece máquinas e serviços por valores simbólicos (R$ 60/hora). O programa já beneficiou quase 600 pequenos produtores com plantio, preparo de solo e colheita. O pagamento pode ser feito até 30 dias após o serviço, tornando a mecanização ainda mais ível.
A nível nacional, programas como o Mais Alimentos, vinculado ao Pronaf, têm papel crucial para incentivar a aquisição de maquinário agrícola. Em 2023, o programa foi relançado com orçamento recorde de R$ 71,6 bilhões — um aumento de 34% em relação ao ciclo anterior. O crédito oferece juros reduzidos (de 6% para 5% ao ano), assistência técnica e incentivos à produção sustentável.
Inovação em filtragem melhora o desempenho das máquinas do campo
De acordo com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o objetivo da retomada do programa é democratizar o o à mecanização. “O que nós estamos fazendo é tentando diminuir a desigualdade que ainda é muito grande entre o pequeno e o grande produtor. Essa diferença não pode continuar existindo”, ressaltou em seu discurso.
Além disso, um acordo de cooperação técnica entre os ministérios de Desenvolvimento Agrário e Agricultura Familiar (MDA), de Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC), e o de Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI) articula políticas conjuntas para fomentar a produção nacional de máquinas e atrair investimentos em inovação.
Cooperação entre Brasil e China
Outra articulação do governo federal para enfrentar a baixa mecanização da agricultura familiar, especialmente no Nordeste brasileiro – onde apenas 2,3% das propriedades familiares usam algum tipo de máquina – é um projeto de cooperação com a China. Formalizada agora em maio por meio de um memorando de entendimento com validade de cinco anos, essa cooperação visa fortalecer a produção de alimentos saudáveis, reduzir desigualdades no campo e fomentar a inovação tecnológica no setor agrícola brasileiro.
Entre os principais eixos da cooperação estão:
Transferência de tecnologia e capacitação
A China compromete-se a fornecer máquinas agrícolas, plataformas digitais de gestão e especialistas técnicos. O Brasil, por sua vez, disponibiliza espaços, instalações e pessoal de gestão, além de apoiar a entrada de produtos e peças de máquinas agrícolas chinesas que contribuam para a pesquisa, desenvolvimento e produção local de equipamentos.
Instalação de fábricas e t ventures
Empresas chinesas de maquinário agrícola são incentivadas a expandir seus negócios no Brasil, com a opção de estabelecer t ventures com empresas brasileiras. Essa iniciativa visa a produção local de máquinas e equipamentos agrícolas modernos e íveis, beneficiando diretamente as famílias da agricultura familiar e promovendo a inclusão social.
Residências de ciência e tecnologia
Estudantes de doutorado e mestrado da Universidade Agrícola da China (UAC) realizam treinamentos junto a agricultores familiares no Brasil, promovendo intercâmbio de conhecimento e capacitação técnica. Esse programa busca melhorar a produtividade e a qualidade de vida dos pequenos agricultores locais.
Testagem de máquinas e equipamentos
Foram doadas 50 máquinas agrícolas chinesas para serem testadas em fazendas da Universidade de Brasília (UnB) e em assentamentos do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST). Esses testes visam avaliar a adequação dos equipamentos à realidade dos pequenos produtores.
Com todas essas iniciativas, a mecanização tem tudo para avançar significativamente no Brasil. E, segundo o atual ministro do Desenvolvimento Agrário e Agricultura Familiar, Paulo Teixeira, as expectativas são altas: chegar a 66% de mecanização na agricultura familiar até 2033.
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